26 de julho de 2018
Prejuízos Constantes e o Colapso do Caixa
Há um pensamento que diz que uma empresa não quebra, ao menos no curto prazo pelos prejuízos que apresenta em seus balanços, mas sim, pela pontual falta de caixa. Portanto o Colapso do Caixa é uma verdade corriqueira.
Algumas empresas que há muito tempo apresentam prejuízos constantes, alto grau de endividamento, caixa deficitário e pesadas restrições cadastrais em seu currículo, acabam por se habituarem às dificuldades e a sobreviver de maneira precária. Alguns empresários creem poder eternizar este status sem perceber, porém, que o negócio ao longo do tempo vai se deteriorando, perdendo mercado, deixando um rastro de inadimplência, endividamento impagável e má reputação de seu nome e marca.
Como resultado, primeiro deixam de recolher tributos, em seguida de pagar fornecedores menos importantes ou substituíveis, logo estão dando calotes nos bancos e, finalmente, não honrando compromissos trabalhistas. A piorar tudo isto, no desespero, alguns se aventuram a flertar com o crime emitindo duplicatas sem lastro.
A situação se agrava dia a dia até que faltem recursos pontuais para aquisição de MP e pedidos deixam de ser entregues; faltem meios para pagamento da conta de energia que está no limite do corte ou da folha atrasada; ou ainda para resgatar uma duplicata não performada. Num piscar de olhos o caixa colapsa, trava tudo e daí para frente parece que nada mais ajuda, prenunciando o fim iminente.
Empresários nestas condições sabem que é preciso rever sua estrutura com vistas à sua nova realidade, mas pecam pelo imobilismo e pela paralisia buscando soluções caseiras ou adiando a tomada de decisão muitas vezes de modo fatal. Ficam a espera daquele pedido salvador, daquele mágico recurso que resolverá tudo desapercebidos de que o endividamento cresce a cada minuto. Eventualmente imaginam buscar um investidor ou sócio, esquecendo-se que investidores e sócios não emprestam dinheiro para liquidação de passivos, mas sim, aportam capitais em negócios sólidos, inovadores e que assegurem a possibilidade de render bons dividendos.
O mercado financeiro está maduro e não quer mais conviver com clientes nesta situação, daí a dificuldade cada vez mais latente daquele dinheiro salvador. Da mesma maneira, bons clientes passaram a se ocupar de estudar a saúde econômica de seus fornecedores, limitando ainda mais o seu mercado.
Não se deve de maneira simplista taxar o empreendedor como incompetente. Não é por aí, pois foram eles os criadores do negócio e que de algum modo chegaram até aqui. Pelo contrário, é necessário mostrar alguns fatores muito importantes que podem contribuir para mudança de postura:
- As soluções do passado nem sempre são as mais adequadas aos problemas de hoje, mesmo que estes sejam semelhantes aos já vividos;
- Atitudes devem ser modernas e inovadoras, portanto, não adianta “fazer mais do mesmo”;
- Ele não é um super-homem capaz de tocar tudo sozinho de maneira eficiente;
- Ajuda externa pode ser bem vinda;
- O medo e a acomodação paralisam e reduzem as chances de sobrevivência;
- É necessário delegar funções e contratar profissionais adequados;
Destaque-se que profissional adequado não é aquele funcionário habituado a cuidar dos diversos departamentos de uma empresa em equilíbrio. Eles não são incompetentes em suas funções, porém desconhecem a arte de conduzir instituições em dificuldades. Gestão de crises, convivência com falta de caixa e estratégias de salvamento não são adquiridos nos bancos escolares e requerem sangue frio, experiência, habilidade e autonomia para executar mudanças drásticas.
Entendidas estas premissas a diretoria sai da estressante linha de frente dos credores e da massacrante luta para se manter vivo, ações que muitas vezes executa sozinha. Logicamente jamais poderá se desligar de seu empreendimento, mas passará a ter uma vida melhor reduzindo significativamente o desgaste emocional.
Deve continuar à frente juntamente com o novo gestor, ciente dos problemas que o cercam e cultivando uma parceria que compartilha os conhecimentos de cada um. O sucesso está na ação conjunta onde nenhum dos dois lados age ou toma decisões isoladas. Quando isto não acontece, a parceria é fadada ao fracasso.
Em minha vida de consultor, os projetos de gestão e recuperação que deram certo foram aqueles onde empresários e consultores se entenderam e trabalharam juntos.
De modo análogo, infelizmente, participei e conheci muitos outros casos de retumbante insucesso devido à falta deste entrosamento. Vaidades e dificuldades para admitir contrariedades se sobrepuseram às necessidades de radicais mudanças. Vale observar que tiveram o mesmo fim projetos onde a Consultoria contratada foi entendida apenas como provedora de recursos, não se dando conta que o problema da crise não está no departamento financeiro e na falta de dinheiro mas, sim, na ineficiência geral do negócio.
Reconhecer a existência de dificuldades é uma das primeiras necessidades para sobrevivência. A segunda é decidir pela tomada das medidas adequadas. Sem mudar radicalmente a forma de pensar e mantendo o mesmo status gerencial, o fracasso será inevitável.
A busca pela ajuda externa é um tabu que necessita ser vencido e não pode ser encarado como demérito ou vergonha. Inúmeras corporações sadias costumam contratar consultores especializados nos mais diversos campos e para os mais diversos fins, cientes de que informação, mesmo que vinda de fora, nunca é demais e assegura decisões corretas.
Há inúmeras consultorias e assessorias no mercado oferecendo bons serviços, bastando ter apenas a coragem de procurá-las, avaliá-las e contratar a melhor.
Muitas vezes é difícil aceitar, mas mudar para sobreviver é essencial. Tome uma atitude antes que seja tarde demais e a crise chegue ao ponto onde já não é mais possível fazer alguma coisa. Não vacile, evite o Colapso do Caixa.
Anselmo Raffaelli Filho
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