3 de outubro de 2025
Burnout, ansiedade, depressão – A crise das doenças mentais nas empresas
A sociedade contemporânea, marcada por um ritmo acelerado e mudanças profundas nas percepções de objetivos e propósitos, tem presenciado um aumento de problemas mentais no ambiente corporativo, como ansiedade, depressão e Síndrome de Burnout. Esse cenário impõe desafios às empresas, exigindo atenção redobrada aos fatores que influenciam a saúde mental dos colaboradores.
“Nos últimos anos, a revolução tecnológica e a crescente digitalização foram intensificadas pela pandemia, além do aumento da pressão e das metas dentro das empresas. Com isso, as frustrações se tornam mais evidentes”, explica Vicente Beraldi Freitas, médico da Moema Medicina do Trabalho.
Ele complementa: “Vivemos em uma realidade onde as pessoas enfrentam dificuldades, como conviver com padrões irreais nas redes sociais e altos anseios, tornando-as mais sensíveis a gatilhos para problemas psiquiátricos.”
A mudança no perfil dos problemas de saúde dos trabalhadores é notável. Tatiana Gonçalves, sócia da Moema Medicina do Trabalho, observa que “há 20 anos, os afastamentos eram majoritariamente por acidentes de trabalho e problemas ortopédicos. Hoje, vemos um crescimento exponencial de pacientes com problemas psiquiátricos.”
Principais doenças e suas causas
Os transtornos de ansiedade, a depressão e a síndrome de Burnout são doenças psiquiátricas marcadas por uma preocupação constante e excessiva com a possibilidade de eventos negativos.
Contudo, existem diferenças entre elas:
- Burnout: Uma condição caracterizada por exaustão extrema e sentimentos de frustração relacionados ao trabalho. Beraldi enfatiza a necessidade de diagnósticos precisos e acompanhamento por profissionais especializados. A atualização do Ministério da Saúde, que incluiu o Burnout na lista de doenças relacionadas ao trabalho, reforça a importância do reconhecimento dos fatores psicossociais no ambiente corporativo. Uma grande dificuldade para as empresas hoje é conseguir identificar corretamente o que realmente é Burnout, pois a condição deve ser relacionada exclusivamente ao trabalho. Muitas vezes, colaboradores trazem para o ambiente profissional problemas pessoais ou externos, que refletem em seu desempenho, mas não se enquadram como Burnout. “É fundamental que a empresa tenha atenção redobrada e acompanhamento profissional para diferenciar exaustão causada pelo trabalho de questões externas que impactam o colaborador. Independentemente da origem, a empresa deve estar presente e apoiar o tratamento dessas condições,” explica Vicente Beraldi.
- Crise de ansiedade: Caracterizada por uma preocupação constante e excessiva, pode levar a sintomas físicos como falta de ar, sudorese e arritmia. “A ansiedade é uma patologia desencadeada por fatores internos ou externos, exacerbada pela pandemia e a crescente digitalização,” explica Vicente Beraldi.
- Depressão: Uma doença crônica e recorrente que causa tristeza profunda e desesperança, afetando a capacidade funcional do indivíduo. É essencial procurar ajuda médica e diferenciar a tristeza patológica daquela transitória, provocada por eventos difíceis da vida.
Dentre as causas desses males estão vários fatores como estresse no trabalho e conflitos relacionados a competências, autonomia, relações com clientes, realização pessoal e falta de apoio social. Além de fatores organizacionais, causados por sobrecarga de trabalho, desalinhamento entre objetivos da empresa e valores pessoais, e isolamento social. Além disso, existem fatores pessoais, com relações familiares e amizades.
O RH preventivo segundo Mari Viana
Mari Viana, especialista em relações humanas e fundadora da Gestão Consciente, reforça que “muitas vezes os empreendedores só buscam ajuda quando os problemas já se manifestaram. Um RH preventivo atua antes, potencializando talentos, treinando liderança e mantendo o clima organizacional saudável.”
Ela acrescenta: “O RH não deve apenas corrigir problemas, mas criar processos claros, acompanhar desempenho, treinar líderes e garantir que todos na organização estejam alinhados à cultura e estratégia da empresa. Isso é essencial para o bem-estar dos colaboradores e o crescimento sustentável do negócio.”
Entre as ações sugeridas por Mari estão:
- Planejamento estratégico de RH: antecipar problemas e implementar políticas preventivas.
- Criar estruturas e rituais para monitorar o clima da organização periodicamente.
- Revisar processos, acompanhar indicadores e proporcionar clareza sobre responsabilidades para as equipes.
- Treinamento de liderança: Desenvolver líderes que sirvam como exemplos e fomentem cultura saudável.
- Gestão de clima e cultura: monitorar indicadores e realizar ajustes antes que conflitos ou desmotivação se consolidem.
- Desenvolvimento contínuo: criar programas de capacitação técnica e comportamental para todos os colaboradores.
- Criar canais e rotinas de comunicação com a equipe sobre resultados esperados para a organização.
- Criação de ambientes colaborativos: estimular comunicação aberta, pertencimento e engajamento.
“Cuidar das pessoas é cuidar do negócio. Um RH estratégico e preventivo garante que as equipes estejam preparadas, motivadas e alinhadas com a cultura da empresa, resultando em produtividade e qualidade de vida para todos,” conclui Mari Viana.
Empresas que investem na saúde mental e na gestão preventiva de pessoas não apenas evitam crises, mas fortalecem o engajamento, a inovação e o desempenho organizacional. Revisar processos, treinar líderes e criar uma cultura consistente são passos essenciais para garantir resultados sustentáveis.
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