17 de dezembro de 2014
IPI menor não deve ser fator nº 1 na compra de carro, dizem analistas
Com a proximidade do fim do desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a indústria automotiva espera um leve “aquecimento” nas vendas no final do ano, que deve ser marcado pela segunda queda seguida, após uma década de altas.
A partir de janeiro, a alíquota do IPI deve voltar ao normal, o que deverá fazer o preço dos carros subir, em média, 4,5%, segundo a associação de fabricantes (Anfavea).
As montadoras têm promovido feirões para incentivar a compra do carro ainda em dezembro, com imposto menor. Mas, segundo especialistas ouvidos pelo G1, o consumidor deve avaliar uma série de fatores antes de decidir pela compra ou troca de um automóvel. O desconto no IPI não é o mais importante, afirmam.
Veja abaixo 5 passos para decidir se é hora de comprar um carro novo.
1) A primeira pergunta
“Está no seu projeto de vida adquirir ou trocar de carro? Essa é a primeira pergunta. Se está no seu planejamento financeiro, sem dúvida o momento é oportuno para fazer uma pesquisa e buscar o veículo que quer”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos.
2) Preço + custo do uso
De acordo com Reinaldo Domingos, para saber se o carro novo “cabe” no bolso, o consumidor deve levar em conta não só o preço do veículo, mas também o seu custo mensal, que fica em torno de 2% do valor do bem.
Para um modelo de R$ 30 mil, por exemplo, o gasto deve ser de R$ 600 por mês. O cálculo feito pela DSOP Educação Financeira leva em conta combustível, manutenção, licenciamento, seguro, IPVA, estacionamento, lavagem e depreciação de 10% ao ano.
O educador financeiro Reinaldo Domingos ressalta a importância, além de checar os custos de manutenção (revisões e peças) do modelo de interesse, informar-se sobre a disponibilidade de estoque no mercado nacional e sobre a extensão da rede de concessionárias no Brasil.
3) Vai financiar?
O passo seguinte é ver se esse carro está de acordo com seu padrão de vida, somando o custo mensal ao da prestação, em caso de financiamento. “Caso esta soma esteja no limite do orçamento, sem reserva, não é aconselhável comprar. Pode ser o IPI menor do mundo, mas se não conseguir pagar depois, não vale a pena”, recomenda Domingos.
Para Ricardo Bacellar, diretor de relacionamento da consultoria KPMG no Brasil para o setor automotivo, a impulsão pelo consumo e pelo status deve ficar em segundo plano. “O risco de se perder o bem aumenta, apesar da maior facilidade de crédito”, apontou.
4) Analise as ofertas
As regiões Sudeste e Sul concentram as melhores ofertas e os preços mais baixos devido ao maior número de concessionárias e modelos disponíveis, em função da competição, segundo diretor executivo do Banco Nacional de Veículos (BNDV), Rafael Campos. “Porém a maior percepção do consumidor é em relação ao custo-benefício das promoções, que podem incluir acessórios, opcionais e serviços de despachante e seguros, reduzindo o ‘pacote’ da negociação”, afirmou.
Assim como no começo deste ano, as concessionárias devem fazer ofertas do tipo “sem IPI maior” ou “preço antigo” ainda no início de 2015. No entanto, o presidente da associação dos concessionários diz que pode ser um risco deixar para depois. “Em dezembro, o consumidor terá mais opções de compra. Com passar do tempo essas opções vão caindo.”
5) Pensa em dar o usado de entrada?
“Quem tem um valor à vista deve negociar descontos maiores. O ideal seria vender o seu usado antes, e evitar a venda casada”, recomendou Bacellar.
Desconto já dura 2 anos e meio
Lançado em 2012, quando as montadoras também tinham estoques altos e dificuldades de venda, o desconto no IPI deve terminar depois de 2 anos e meio de prorrogações e diminuição gradual do incentivo, sem evitar uma nova queda nos emplacamentos.
Em 2013, o mercado automotivo apresentou recuo de 0,91%, e 2014 deve acabar com contração de cerca de 5%, conforme projeção das montadoras.
Mesmo com as vendas piores do que o ano passado, tudo indica que, desta vez, o governo manterá o cronograma e acabará com o IPI reduzido. Ainda não foi feito, no entanto, um comunicado oficial.
“Se (o IPI cheio) não voltar, vai ser uma surpresa. Vamos lembrar que o Brasil é o país que mais tributa veículo no mundo. Os impostos representam em torno de 37% do preço final, somando toda a cadeia tributária, sem contar IPVA e licenciamento. Todo aumento de preço é negativo para o setor”, diz Meneghetti, da Fenabrave.
Consumidor receoso, pátio cheio
A retomada aos poucos do IPI gerou algumas “corridas” às concessionárias -e recordes mensais de vendas- ao longo desses 2 anos, mas agora o cenário é diferente, dizem analistas.
“A população está vivendo um cenário de incertezas, que vai muito além de compra de carro”, comentou o diretor da KPMG, Ricardo Bacellar.
“Quando o consumidor começa a ter uma percepção de risco do próprio emprego, vê que sua capacidade de endividamento está no limite, ele pensa duas vezes antes de comprar um carro, apesar de o acesso ao crédito ter sido facilitado”, completou.
No final de novembro, 414,3 mil veículos estavam parados nos pátios das montadoras e nas concessionárias, o que representa 42 dias de vendas ao ritmo atual – um nível bem acima do ideal para a Anfavea.
Os primeiros dias úteis de dezembro já apresentaram maior fluxo de clientes às concessionárias e pedidos formalizados, segundo Campos, do BNDV. “A média diária de vendas aumentou, mas ainda não é possível saber quanto. Normalmente, leva-se cerca de 7 a 10 dias para o emplacamento e entrega de um veículo dito pronta-entrega”, disse.
Com menos dias úteis, dezembro registrou altas de 9,83% e 11,5% na média diária, em relação a outubro, nos anos de 2012 e 2013, respectivamente, conforme dados do banco. A alta pode ser relacionada à expectativa de aumento do IPI em 1º de janeiro, que ocorre pelo 3º ano seguido.
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