24 de janeiro de 2024

Educação Financeira: necessário na era da economia e do trabalho digital

 

Na era da economia digital, as mudanças na natureza do trabalho têm impactado de forma significativa a necessidade de repensar a educação financeira. Com o crescimento do trabalho autônomo, independente e através de aplicativos, os trabalhadores enfrentam novos desafios em relação à segurança financeira e previdência. 

Isso ocorre principalmente em relação a novos modelos de trabalho, como os motoristas de aplicativos e trabalhadores de aplicativos de entregas. Esses grupos cresceram consideravelmente e isso abriu uma arriscada brecha em relação ao futuro dessas pessoas.

Uma pesquisa intitulada “Futuro do Trabalho por Aplicativo” revelou que um número significativo de entregadores e entregadoras que operam nessa área no Brasil enfrentam a falta de cobertura previdenciária, deixando-os em uma situação de vulnerabilidade em casos de acidentes ou doenças. O estudo, realizado pelo Datafolha a pedido do iFood e da Uber, demonstra como a Previdência Social é uma preocupação crescente para esses profissionais.

De acordo com a pesquisa, 48% dos entregadores entrevistados expressaram temores em relação à perda de renda no caso de sofrerem um acidente ou precisarem interromper o trabalho de entrega. Essa inquietação destaca a importância da seguridade social para esses trabalhadores, que muitas vezes não contam com os mesmos benefícios e proteções proporcionados pelos empregos tradicionais.

O levantamento, que abrangeu 1.000 entregadores e 1.800 motoristas ativos nas plataformas iFood e Uber, foi conduzido entre janeiro e março de 2023. Os resultados revelam que 32% dos entregadores não fazem contribuições ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) nem possuem um plano de previdência privada.

Outros 34% informaram que contribuem como empregados de empresas privadas ou do setor público, enquanto 24% estão inseridos no sistema de Previdência Social como prestadores de serviços autônomos ou trabalhadores por conta própria.

Surpreendentemente, mesmo entre aqueles que têm outras fontes de renda além das entregas por aplicativos, quase metade (47%) não está coberta pela Previdência Social.

Thiago Bassetto, estrategista de investimentos da L’Áquila Invest, observa que, apesar das transformações na forma como as tarefas profissionais são executadas, a educação financeira ainda se mantém relevante e crucial, independentemente da maneira como as pessoas ganham a vida. 

Bassetto enfatiza que, no cerne da educação financeira, está o entendimento básico de quanto se ganha e como se gasta o dinheiro. Mesmo na era digital, onde a tecnologia e a conveniência tornaram-se predominantes, esse conhecimento fundamental permanece inalterado. No entanto, a economia digital trouxe novas ferramentas que podem facilitar o processo de gerenciamento financeiro, incluindo aplicativos, sites e planilhas mais sofisticadas. 

“As mudanças significativas no mercado de trabalho, como a proliferação de empregos autônomos e a crescente utilização de aplicativos para prestação de serviços, exigem uma abordagem flexível em relação à gestão financeira. Os trabalhadores devem estar preparados para navegar em ambientes em constante evolução”, explica.

Em meio a uma era de incerteza no sistema previdenciário, as pessoas precisam se planejar para o futuro. O desafio reside em como fazer isso quando a segurança da previdência tradicional não é garantida. “O planejamento financeiro pessoal torna-se essencial, e as pessoas devem considerar a diversificação de suas fontes de renda, a formação de reservas de emergência e o investimento em previdência privada como opções para garantir seu futuro financeiro”, detalha Bassetto.

Outro ponto é que se deve pensar as finanças de uma nova forma, sendo que esses trabalhadores não têm estabilidade nos fluxos de renda mensal e muitas vezes precisam arcar com despesas que não são cobertas por empregadores tradicionais, é fundamental que saibam como gerenciar seus ganhos e despesas. 

“Profissionais que atuam nessas áreas devem criar um planejamento financeiro mensal que leve em consideração variações na renda. Isso significa estabelecer reservas para meses com menor rendimento e manter o controle de gastos durante os meses de maior rendimento”, alerta Bassetto. 

Para trabalhadores autônomos e independentes, a ausência de proteção social é um desafio significativo. Eles devem estar atentos aos custos associados à proteção social, como a contribuição para a previdência pública, e também devem ser cuidadosos ao criar reservas financeiras para períodos em que não possam trabalhar.

Previdência privada como estratégia

A previdência privada pode ser uma escolha sensata para complementar a previdência oficial, uma vez que permite uma abordagem mais flexível e personalizada. No entanto, escolher o plano de previdência privada ideal requer considerar taxas, prazos e perfil de risco.

“A opção por uma previdência privada nunca foi tão relevante, principalmente neste momento. Sabemos que o sistema de previdência social foi criado para dar garantias mínimas de vida às pessoas quando se aposentam, contudo, com as recentes reformas a renda futura que irá proporcionar é limitada. Impossibilitando manter o padrão de vida depois da aposentadoria. Por tudo isso, é imprescindível complementar a aposentadoria pública (caso tenha) com um plano de previdência privada”, explica a sócia da Camillo Seguros, Cristina Camillo.

Assim, o principal atrativo da previdência privada é garantir rendimentos futuros. Mas é preciso entender melhor a previdência, existem dois tipos de planos de previdência privada: o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL).

“Ponto importante é que os planos de previdência devem ser incluídos na declaração de IR, sendo que os da modalidade PGBL permitem aos participantes deduzir as contribuições da base de cálculo do Imposto de Renda até o limite de 12% da renda bruta anual tributável. Para fazer a dedução, é preciso fazer a declaração completa do Imposto de Renda (IR), em vez da versão simplificada, que dá direito a desconto padrão de 20%”, detalha Cristina Camillo.

Outras formas de investimento para a aposentadoria

“Além da previdência privada, investir em ações, imóveis e fundos de investimento são opções que podem garantir uma aposentadoria sólida. A diversificação é crucial para reduzir riscos e construir um portfólio de investimentos equilibrado”, explica Thiago Bassetto.

Em uma economia digital em constante evolução, o planejamento financeiro assume uma importância ainda maior. As pessoas precisam se adaptar às novas formas de trabalho e criar estratégias financeiras flexíveis para garantir sua segurança financeira no futuro. Uma visão ampla do planejamento financeiro deve abranger objetivos, padrão de vida, gerenciamento de dívidas e planejamento de gastos, proporcionando a base para decisões financeiras sólidas. A educação financeira desempenha um papel fundamental nesse contexto, auxiliando as pessoas a compreender os desafios da economia digital e a navegar com sucesso em meio a eles.