28 de setembro de 2025

Recuperações judiciais no agronegócio atingem recorde: o que isso sinaliza para empresas de todos os setores? 

 

Os pedidos de recuperação judicial (RJ) no agronegócio brasileiro atingiram números recordes no segundo trimestre de 2025, com alta de 31,7% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Serasa Experian. Foram 565 solicitações no total, considerando produtores pessoa física, pessoa jurídica e empresas ligadas ao setor – um aumento de 45,2% em comparação ao primeiro trimestre deste ano.
 

O movimento foi impulsionado principalmente por produtores rurais que atuam como pessoa jurídica (PJ), que mais que dobraram os pedidos em relação ao ano anterior, chegando a 243 solicitações. Pela primeira vez desde o fim de 2023, os pedidos de PJ superaram os de pessoa física, o que reforça a gravidade da situação para empresas de maior porte, geralmente mais estruturadas.
 

Esse cenário não se restringe ao campo: outras companhias, como Oi, Ducoco, Grupo St e Bombril, também entraram recentemente com pedidos de recuperação judicial. A tendência confirma que a reestruturação financeira tem se tornado inevitável em diferentes setores da economia.
 

Impacto econômico e necessidade de ação imediata

“O mercado brasileiro, assim como muitos países ao redor do mundo, tem enfrentado grandes dificuldades para se recuperar pós-pandemia, com as guerras e agora com as taxações. As oscilações políticas e econômicas globais têm grande impacto no cenário econômico interno. Os principais players do mercado sobreviveram nos últimos anos, mantendo suas operações no vermelho e recorrendo a empréstimos para evitar o fechamento”, explica Denis Barroso, sócio da Barroso Advogados Associados e especialista em recuperação empresarial.
 

Além disso, fatores como juros elevados, crédito caro, perda do poder aquisitivo da população e recuperação lenta do consumo pressionam as empresas e aumentam o risco de insolvência. “As empresas precisam reavaliar sua estrutura organizacional, considerando não apenas a recuperação judicial, mas também opções como reestruturação interna e negociação com credores”, alerta Benito Pedro, sócio da Avante Assessoria Empresarial.
 

Como evitar a crise e avaliar a recuperação judicial

Para especialistas, a recuperação judicial não deve ser vista como uma sentença de falência, mas sim como um instrumento de recomeço, desde que adotado com responsabilidade e planejamento.
 

“Em momentos de crise, é fundamental que as empresas compreendam que nenhuma organização está imune a problemas financeiros, e que estes podem surgir a qualquer momento. Investir em controles e gestão adequados é crucial para identificar e corrigir pontos de vulnerabilidade e garantir que o negócio se mantenha competitivo no mercado”, reforça Denis Barroso.
 

No entanto, a decisão de ingressar com RJ precisa ser bem avaliada, seja para o agronegócio ou outro setor. “É importante ressaltar que, além da recuperação judicial, as empresas devem estar preparadas para explorar alternativas como a negociação direta com credores ou a busca por investidores, com o apoio de assessoria especializada. O acompanhamento profissional para entender as opções disponíveis e tomar decisões informadas é essencial nesse cenário de crise”, complementa Benito Pedro.
 

O recorde de pedidos no agronegócio serve de alerta para toda a economia. Se por um lado ele evidencia a gravidade da situação no campo, por outro reforça a importância de gestão financeira sólida, estratégias de renegociação e inovação na estrutura de negócios como caminhos para superar a crise.

Empresas que conseguirem se reorganizar e transformar a recuperação judicial em oportunidade poderão sair mais fortes do que entraram.