19 de fevereiro de 2018
Pirataria de software – conheça os riscos empresariais e penais
Um mundo sem lei e a Pirataria de Software! A tecnologia está universalizando as informações e trazendo muitos benefícios, mas, por outro lado, também abriu espaço para novos crimes. A variedade é imensa, há transgressões aterradoras, como a pedofilia, e outras também assustadoras, como espionagem e roubo de dados.
Será que a sua empresa está nesse mundo de irregularidades? Infelizmente, muitas vezes, mesmo sem os gestores saberem, as empresas estão cometendo crimes. Segundo a Pesquisa Global de Software da BSA (Business Software Alliance), divulgada em 2016, 39% do software instalado em computadores em todo o mundo no ano anterior não estavam devidamente licenciados. Houve apenas uma diminuição moderada em relação aos 43% evidenciados pelo estudo global anterior da BSA, de 2013.
Realidade do Brasil:
No Brasil, o cenário é um pouco pior que a média mundial. De acordo com o estudo, quase metade dos softwares instalados aqui não são licenciados, já que o índice de pirataria de software chegou a 47%. Conduto houve redução de três pontos percentuais sobre o registrado para o país na edição anterior da pesquisa.
Ao observar esses números, muitos empresários devem pensar: “ainda bem que minha empresa não faz parte desses índices!”. Mas aí está uma afirmação que pode ser ingênua. O levantamento também mostra que, muitas vezes, os gestores das empresas simplesmente ignoram irregularidades existentes.
Como lidam os profissionais de TI e softwares:
Muitos CIOs (Chief Information Officer, profissionais responsáveis pelo TI) simplesmente não sabem quantos softwares estão sendo instalados na rede de suas empresas. Os CIOs estimam que 15% de seus funcionários carregam software na rede sem o conhecimento da empresa, enquanto quase o dobro dessa porcentagem de trabalhadores dizem que estão carregando software na rede que a empresa não conhece.
Contudo, eles sabem os riscos existentes, sendo que os gestores disseram que evitar ameaças de segurança é uma razão crítica para garantir que o software que está sendo executado em suas redes seja legítimo e totalmente licenciado. E 49% dos CIOs identificaram ameaças de segurança de malware (vírus que capturam dados do cliente) como grande ameaça representada por software não licenciado.
Digitalmente Falando:
Mesmo em certas indústrias críticas, onde seria muito mais rigoroso o controle do ambiente digital, o uso não licenciado era surpreendentemente alto. A pesquisa encontrou que a taxa mundial é de 25% para as indústrias bancária, de seguros e de valores mobiliários.
Fato é que sua empresa pode estar cometendo crime e exposta a riscos de invasão, rapto de dados ou travamento de todo o sistema sem que os gestores saibam. E, quando os problemas ocorrem, poderá ser tarde demais: após prejuízos enormes.
Riscos legais
Muito além dos riscos de invasão e vírus, a utilização de softwares não registrados não é legal. “O software no Brasil é regulado pelas Leis 9.609/1998 e 9.610/1998 e as empresas têm que conhecer essa legislação, pois usar programa de computador ou reproduzir qualquer direito autoral sem autorização é crime”, explica Rosa Maria Sborgia, advogada, agente da propriedade intelectual e sócia da Bicudo Marcas e Patentes.
Ela explica que a pirataria que consiste na cópia não autorizada de software original protegido pelo regime legal de direitos autorais é, em regra, praticada em diferentes formas. Vai desde o uso/instalação de software não original em computador até a reprodução de conteúdo autoral (como músicas, filmes e software) em CD’s e DVD’s, aplicativos com as respectivas distribuições, normalmente, na forma comercial.
Pirataria no Brasil:
“Apesar de o Brasil possuir alto índice de pirataria, o que é visível a olho nu nos principais centros comerciais, o fato é que as empresas titulares desses softwares têm se organizado e adotado cada vez mais medidas administrativas e/ou judiciais, com apoio ou não de autoridades policiais, para inibir tal prática. Isso se faz por meios administrativos, através do envio de notificações, e também por meios judiciais, nos quais há o pedido de ações judiciais, incluindo práticas de busca e apreensão”, detalha Sborgia.
As grandes empresas já estão se precavendo e “fechando o cerco” contra falsificadores. Exemplo é a Microsoft, que em parceria com ABES (Associação Brasileira das Empresas Software) e a BSA, criou o site Denuncie Pirataria para receber denúncias e combater a pirataria de software, com intuito de realizar licenciamento Microsoft nas empresas de forma correta.
Denuncia:
Nesse caso, a denúncia é realizada anonimamente no site, por questões de segurança e privacidade. A empresa denunciada recebe uma notificação da equipe jurídica da Microsoft, seja por carta, e-mail ou telefonema do time de Compliance. Após o contato é necessário preencher uma planilha, em que deverá informar a quantidade de máquinas, softwares e licenças instaladas.
Em alguns casos pode ser solicitado que a empresa instale um software de inventário que, através da rede de compartilhamento de computadores da empresa, vai identificar os produtos Microsoft instalados nas máquinas.
A empresa tem um prazo de 5 dias para preencher a planilha e enviar as notas fiscais dos produtos Microsoft – exceto quando estiver utilizando o software de inventário, pois esse método demanda um tempo maior.
Geralmente o time de Compliance entra em contato para dar orientações referentes ao prazo de licenciamento. Se a empresa não cumprir as orientações ou não enviar a planilha no tempo determinado o caso acaba sendo encaminhado para o departamento jurídico da Microsoft, que pode entrar com processo judicial contra a empresa. Enfim, é preciso ficar atento.
Penalidades
A Sócia da Bicudo Marcas e Patentes explica que as penalidades para quem piratear software variam da detenção entre seis meses e dois anos, reclusão entre um e quatro anos e/ou multa, além da inevitável depreciação da imagem da empresa, pessoa física ou profissional liberal.
“A melhor forma de proteção para a empresa que deseja se manter regularizada é a aquisição de softwares originais, comprando em estabelecimento autorizado e obtendo nota fiscal. É importante guardar a nota fiscal original para provar a aquisição, mesmo que seja feito cadastro automático do CNPJ ou CPF do adquirente”, alerta Sborgia.
Além de preservar e controlar as documentações fiscais dos aparelhos e softwares, é imprescindível monitorar os computadores para evitar que os colaboradores instalem softwares piratas sem autorização, gerando riscos de denúncias maldosas e responsabilidade civil ou criminal indesejada.
“Constantes são as denúncias anônimas, que acabam gerando para as empresas notificações e/ou fiscalizações por escritórios jurídicos das tradicionais empresas titulares de software ou até mesmo pela polícia. É preciso estar atento”, alerta a sócia da Bicudo Marcas e Patentes.
Riscos penais
A revista Gestão in Foco conversou com André Damiani e Matheus Pupo, sócios da Damiani Sociedade de Advogados, que pontuaram aspectos importantes sobre as implicações de pirataria de software. Veja:
No Brasil, desde os anos 80, a propriedade intelectual é protegida pelo Código Penal. Atualmente, existem duas leis penais que criminalizam a pirataria. A regra geral está prevista no art. 185 do Código Penal, que comina penas que podem chegar a quatro anos de prisão para quem lucra com a falsificação e/ou utilização de produtos piratas (como músicas, filmes, séries, livros, revistas, etc.). A Lei do Software, relacionada a programas de computador, comina quatro anos de prisão para quem explora programas de computador pirateados.
Ressalte-se que, quando se trata de software, basta a mera utilização em desacordo com a licença de uso, mesmo que seja utilizado um produto original, para a configuração do crime. Um exemplo é um programa de computador cuja licença permite utilização em apenas um aparelho ser utilizado em diversos.
Outras consequências
Além de punições criminais, a legislação brasileira prevê também sanções indenizatórias (civis) àqueles que pirateiam programas de computador. De acordo com a Lei 9.610/98 (Lei do Direito Autoral), quem vende ou utiliza software pirata é obrigado a compensar o fabricante (ou quem detém a licença de comercialização), pagando o valor de mercado do programa em questão, além de outros apreendidos em seu poder. Caso não seja possível especificar o número de programas pirateados (usados sem licença ou falsificados), a citada lei determina o pagamento equivalente ao valor de três mil exemplares.
Além disso, a jurisprudência mais recente das cortes brasileiras também vem condenando quem pirateia software ao pagamento de indenização punitiva, que chega a equivaler dez vezes o valor da supracitada compensação. Afinal, o mero pagamento do valor de mercado, obviamente, não é suficiente para inibir a utilização e venda irregular do programa de computador.
Proteção para quem produz
As empresas que produzem software podem se proteger em dois momentos distintos.
Preventivamente, a grande maioria delas insere em seus programas de computador software de verificação de autenticidade, que bloqueia seu funcionamento quando em desacordo com a respectiva licença. A Microsoft foi uma das primeiras grandes empresas a utilizar tal medida.
Paralelamente, muitas empresas incluem em suas licenças (ou termos de uso) cláusulas que preveem a possibilidade de fiscalização do uso do programa, sob pena de pagamento de multas contratuais.
Uma vez constatado que o programa de computador está sendo pirateado, é necessário que a empresa contrate um advogado, que deverá tomar medidas judiciais buscando, primeiramente, a apreensão dos programas de computador e então as cabíveis indenizações.
Do ponto de vista penal, como regra, o crime de violação ao direito autoral relacionado a programas de computador é de ação penal privada, ou seja, diferentemente do que acontece com os crimes comuns, que são investigados pela polícia e Ministério Público, a vítima terá que contratar um advogado particular para ajuizar as medidas cautelares (como busca e apreensão) e a ação penal.
Garantindo a segurança contra Pirataria de software
A única garantia que o empresário tem de que sua empresa está totalmente regular é, apenas, adquirir programas de computador de empresas que possuem licenças para vendê-los. Nesse caso, um bom indicativo da legitimidade da empresa é se ela emite nota fiscal.
Além disso, é preciso fiscalizar a utilização do software, já que, é importante lembrar, a utilização de programa de computador legítimo, porém, em desacordo com sua licença, também pode configurar pirataria.
Autoria: Rosa Sborgia – Bicudo Marcas e Patentes
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