
19 de agosto de 2025
Como alongar os passivos da empresa de forma estratégica
Em um cenário econômico instável, com alta competitividade e margens apertadas, muitos empresários se veem obrigados a contrair dívidas para manter a operação. No entanto, a ausência de planejamento financeiro pode transformar essa ferramenta de crescimento em um problema crônico.
“Um dos erros mais comuns é assumir dívidas sem considerar o real fluxo de caixa da empresa. Isso acontece quando o empresário ignora o ciclo financeiro, não projeta sazonalidades ou até mistura finanças pessoais e corporativas”, afirma Benito Pedro Vieira Santos, CEO da Avante Assessoria, empresa com quase duas décadas de experiência em reestruturação financeira empresarial.
Segundo o executivo, a renegociação de passivos não deve ser vista apenas como uma tática de sobrevivência, mas como parte estratégica do planejamento financeiro. “É preciso ter clareza sobre a capacidade de pagamento da empresa. Um compromisso de renegociação deve ser quitado com o resultado da empresa, e não ser tratado como se fosse parte da operação. Isso é um erro recorrente”, alerta Santos.
Diagnóstico Financeiro: o primeiro passo
Antes de renegociar, é fundamental entender o ponto de equilíbrio do negócio. Isso envolve mapear os custos operacionais, despesas patrimoniais, endividamento atual, ativos disponíveis e indicadores como EBITDA, margem líquida e liquidez corrente.
“Trabalhamos com projeções em três cenários: otimista, realista e pessimista. Isso permite que o empresário visualize o impacto de suas decisões e esteja preparado para imprevistos”, explica Santos.
Priorizando os passivos: um método estratégico
Renegociar todas as dívidas ao mesmo tempo pode ser inviável. Por isso, a Avante recomenda uma metodologia de priorização baseada em urgência e impacto:
- Prioridade 1: dívidas com juros mais altos ou que afetam a operação diretamente (como fornecedores estratégicos);
- Prioridade 2: passivos fiscais, que podem ser renegociados por meio de parcelamentos como REFIS;
- Prioridade 3: empréstimos com garantias reais.
Além disso, é importante avaliar a flexibilidade de cada credor. “Bancos e o fisco têm mecanismos mais estruturados de negociação, enquanto fornecedores podem oferecer acordos criativos se houver transparência e confiança mútua”, afirma Santos.
Como lidar com diferentes credores
A renegociação deve ser customizada conforme o perfil de cada credor. Santos detalha:
Bancos
- Apresente demonstrativos atualizados e um plano de recuperação consistente;
- Negocie a substituição de dívidas caras por linhas de crédito mais baratas;
- Utilize garantias reais para obter melhores condições.
Fornecedores
- Proponha prazos maiores ou descontos para pagamentos à vista;
- Negocie exclusividades em troca de melhores termos.
Fisco
- Aderir a programas como REFIS ou buscar transações tributárias para reduzir multas e juros;
- Avaliar possibilidades de compensação de créditos fiscais.
“É essencial contar com uma assessoria externa especializada, porque a renegociação exige tempo, técnica e foco. Se for feita pela equipe interna, a operação pode ser comprometida”, ressalta o CEO da Avante.
Renegociar para crescer
A renegociação de passivos tem impacto direto na continuidade e expansão do negócio. Ao aliviar o caixa, a empresa ganha fôlego para investir, evita inadimplência e preserva sua reputação no mercado.
“Se a dívida compromete mais de 30% do EBITDA, a renegociação deixa de ser uma opção e passa a ser uma medida de sobrevivência. Por outro lado, se a empresa tem potencial de crescimento, alongar prazos pode transformar passivos em oportunidades”, explica Santos.
A transação tributária como estratégia de reestruturação
Dentre os passivos a serem renegociados, as dívidas fiscais merecem atenção especial. Para além dos tradicionais parcelamentos como o REFIS, a transação tributária vem ganhando protagonismo como ferramenta eficaz para empresas que buscam reorganizar suas finanças e evitar litígios com o fisco. Diferente do parcelamento convencional, esse mecanismo jurídico permite uma negociação mais flexível, com possibilidade de descontos expressivos, prazos estendidos e até suspensão de execuções fiscais.
“A transação tributária não é apenas uma alternativa de pagamento, mas sim uma oportunidade real de reestruturação fiscal. Ela oferece ao contribuinte a chance de ajustar seus débitos com base em sua capacidade financeira atual, o que é essencial em um contexto de recuperação ou expansão”, explica Dr. Thiago Santana Lira, da Barroso Advogados Associados.
Essa modalidade tem sido utilizada com sucesso por empresas de diferentes portes, inclusive em situações de recuperação judicial. Nesses casos, os benefícios costumam ser ainda mais amplos, com possibilidade de personalização da proposta, conforme destaca Dr. Thiago Lira: “Empresas que apresentam um diagnóstico fiscal claro e uma proposta bem fundamentada conseguem não só reduzir o passivo, como também abrir espaço para retomar investimentos e regularizar sua situação com o Estado.”
A adesão à transação pode ser feita via plataforma online, com programas de adesão automática, ou por meio de proposta individual — ideal para empresas que necessitam de soluções mais ajustadas à sua realidade. “É fundamental que o empresário conte com suporte jurídico especializado, tanto para identificar débitos prescritos quanto para estruturar uma proposta viável. Sem isso, há risco de comprometer o planejamento estratégico ou até reincidir na inadimplência”, alerta o advogado da Barroso Advogados.
Além do alívio financeiro imediato, a transação proporciona vantagens operacionais importantes, como a suspensão de ações de execução fiscal, o que protege os ativos da empresa e evita o bloqueio de contas ou bens. “Ela é uma ponte entre o endividamento e a retomada de crescimento, desde que utilizada com responsabilidade e dentro de um plano bem estruturado”, completa o Dr. Thiago.
Casos de sucesso
A Avante e a Barroso estão há anos atuando nessa frente e explicam que acumulam uma série de negociações bem-sucedidas, tanto no âmbito administrativo quanto judicial. “Em muitos casos, conseguimos alongar passivos bancários com desconto de pontualidade. Já na esfera judicial, conquistamos deságios de até 80% dentro do plano de recuperação judicial”, revela o CEO da Avante.
O segredo? Um diagnóstico financeiro detalhado e realista. “Esse processo permite entender o cenário financeiro da empresa com profundidade e tomar decisões assertivas, com menor custo e maior impacto positivo”, conclui.
Renegociar dívidas com estratégia é mais do que resolver um problema: é preparar a empresa para um novo ciclo de crescimento. Com diagnóstico preciso, priorização inteligente e negociação orientada, é possível transformar passivos em instrumentos de competitividade e sustentabilidade no longo prazo.
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