31 de julho de 2025

Erros levam 3 em cada 10 empresas ao fechamento precoce – veja 10 pilares para isso não acontecer

 

O Brasil segue batendo recordes de novos empreendimentos, impulsionado pelo espírito empreendedor da população. Em 2024, foram abertas mais de 4,1 milhões de empresas, segundo dados do Sebrae — um crescimento de quase 10% em relação ao ano anterior. Apesar do número expressivo, o país enfrenta uma triste contradição: 29% desses negócios fecham antes de completar cinco anos, sendo a desorganização financeira uma das causas centrais.

Uma pesquisa recente do Instituto Locomotiva evidencia o problema: nove em cada dez gestores de pequenas e médias empresas relatam dificuldades com o controle financeiro. Sem planejamento estruturado e com baixa cultura de gestão, esses empreendedores acabam operando no limite, expostos às oscilações econômicas e a riscos fiscais e jurídicos.

Para Richard Domingos, diretor executivo da Confirp Contabilidade, o cenário evidencia uma lacuna que vai além da falta de dinheiro. “A maioria dos negócios quebra por má gestão — não por ausência de oportunidade ou clientes. E, nesse ponto, o planejamento estratégico para abertura pode ser o diferencial entre o fracasso e a sobrevivência”, afirma.

Estratégias para abrir uma empresa de forma consistente

Para quem deseja abrir um negócio ou já está em operação, Domingos elenca uma série de recomendações práticas que ajudam a evitar armadilhas comuns. A seguir, veja os principais pilares para uma abertura estruturada e uma gestão de longo prazo:

1. Planejamento e estudo de mercado

Antes de tudo, é preciso entender o setor em que se pretende atuar, estudar a concorrência, mapear o público-alvo e elaborar um plano de negócios. Muitos empreendedores pulam essa etapa, o que compromete a viabilidade da empresa desde o início.

2. Cálculo de custos e estrutura inicial

É necessário levantar todos os custos envolvidos para colocar a empresa em funcionamento, incluindo despesas com registro, infraestrutura, pessoal, alvarás e equipamentos. Sem esse mapeamento, a chance de subestimar os investimentos é alta.

3. Reserva de capital ou crédito responsável

Nos primeiros meses, é comum que a empresa ainda não gere lucro. Ter uma reserva financeira ou acesso a crédito com boas condições pode garantir o fôlego necessário até que o negócio se estabilize. Domingos alerta: “o crédito deve ser usado com parcimônia e planejamento”.

4. Escolha do regime tributário ideal

Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real? Essa escolha impacta diretamente a carga de impostos e deve ser feita com orientação técnica. Um erro aqui pode gerar custos desnecessários ou problemas com o Fisco.

5. Elaboração do contrato social com segurança

O contrato social define regras do jogo: capital social, responsabilidades dos sócios, divisão de lucros, entre outros. Com o apoio da contabilidade, é possível garantir que o documento esteja alinhado à legislação e à realidade do negócio.

6. Definição do ponto e estrutura operacional

O local escolhido deve estar alinhado com o público-alvo, respeitar regras municipais e oferecer a estrutura necessária para operação. Questões como acessibilidade, logística e custo fixo também devem ser consideradas.

7. Regularização documental e licenças

Do habite-se ao alvará de funcionamento, cada cidade impõe exigências diferentes. Ignorar essa etapa pode resultar em multas ou até mesmo na interdição da empresa.

8. Contratação de pessoal e gestão de equipe

Mesmo negócios pequenos precisam de cuidado na contratação de colaboradores. O processo deve considerar não apenas habilidades técnicas, mas também o alinhamento com os valores da empresa. A legislação trabalhista deve ser cumprida à risca.

9. Contabilidade ativa desde o início

Ter um contador desde o primeiro momento é essencial para garantir o enquadramento correto, cumprir obrigações legais e manter o controle financeiro. A contabilidade ativa acompanha o negócio, aponta riscos e sugere melhorias.

10. Estratégias de marketing e geração de demanda

Por fim, sem clientes não há negócio. É preciso pensar em divulgação desde o início, com ações voltadas ao público ideal. Utilizar redes sociais, criar um site funcional, investir em anúncios e fidelizar consumidores são passos indispensáveis.

Contabilidade e tecnologia como aliada da gestão

De acordo com Domingos, ainda há uma visão limitada sobre o papel do contador nas empresas. Muitos empreendedores enxergam o serviço apenas como um meio para cumprir obrigações fiscais. No entanto, um parceiro contábil qualificado pode atuar como consultor financeiro, apoiar na definição do regime tributário ideal, acompanhar indicadores de desempenho e até ajudar na projeção de cenários futuros.

“Empreender exige técnica, e não só paixão. Ter ao lado uma contabilidade estruturada, oferece segurança jurídica e financeira, o que permite ao empresário tomar decisões com base em dados concretos”, explica.

Outro ponto de destaque é o avanço tecnológico, que tem trazido ferramentas acessíveis que ajudam na organização financeira e na gestão eficiente do negócio. Softwares de fluxo de caixa, emissão de notas, controle de estoque e até análise de performance podem ser incorporados mesmo em empresas com orçamento enxuto.

“Hoje, mesmo pequenas empresas podem operar com um nível de controle antes exclusivo de grandes corporações. O que falta muitas vezes é conhecimento e orientação para usar esses recursos com inteligência”, destaca Domingos.

Embora o cenário ainda seja desafiador para as PMEs no Brasil, o caminho para mudar essa realidade está ao alcance. Com planejamento, capacitação, apoio contábil e uso estratégico da tecnologia, é possível não apenas sobreviver, mas crescer de forma sustentável.